O pré-candidato à Presidência pelo Podemos, Alvaro Dias (PR), omitiu gastos parlamentares com combustível e correios ao comentar sobre as despesas do seu mandato no Senado durante entrevista à GloboNews nesta segunda-feira (30). O político também usou dados imprecisos sobre rejeição dos adversários na corrida presidencial e comentou o envolvimento de seu suplente no Senado Joel Malucelli em escândalos de corrupção.
Veja abaixo o que checamos.
Veja por exemplo os meus gastos deste ano, de tudo, passagem, gabinete, tudo. (...) A única coisa que eu uso do gabinete é a cota de passagem.
No Senado, Alvaro Dias usufruiu, neste ano, de R$ 11.766,44 de sua cota para exercício da atividade parlamentar para gastos com passagens aéreas, aquáticas e terrestres nacionais. No entanto, ao contrário do que foi dito por Dias, foram feitos pelo gabinete outros gastos estruturais, como, por exemplo, o valor de R$ 14.788,01 em correspondência e o de R$ 3.494,12 em outros materiais. Por conta disso, a afirmação dita pelo candidato de gastos apenas com passagens é FALSA.
A Ceap (Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar dos Senadores) é formada a partir do somatório da verba de transportes aéreos e da verba indenizatória e possui valores diferentes de acordo com cada estado. A VTA (Verba de Transporte Aéreo) é equivalente a cinco trechos, ida e volta, da capital do Estado de origem do senador ou senadora a Brasília, e varia de acordo com o preço médio das passagens de cada Estado. Para o Paraná, Estado que elegeu o senador, o valor é de R$ 17.586,60. Ao todo, a cota tem o valor mensal de R$ 32.586,60.
Por mês, o senador tem direito ao gasto de R$ 25.066,80 em correspondência, cuja quantia pode acumular para o mês seguinte caso não seja utilizada. Além disso, Alvaro Dias também fez uso de benefício para a compra do que aparece especificado no portal do Senado como “outros materiais”. Na lista, figura, por exemplo, a aquisição de 18 quilos de café no mês de maio.
Alvaro Dias falou de seus gastos quando questionado a respeito do episódio em que utilizou a cota parlamentar para a compra de passagens aéreas para a cidade de Montevidéu, no Uruguai, para seu filho. O episódio ocorreu em 2008 e outras três pessoas também foram beneficiadas, desta vez com passagens para Buenos Aires, na Argentina.
Ao jornal Gazeta do Povo, Alvaro Dias disse que, na ocasião da viagem de seu filho, pediu para o seus funcionários de gabinete providenciarem a passagem, pois no momento não poderia fazer, ele próprio, o mesmo. Afirmou também que em algumas ocasiões usa o próprio cartão de crédito para o custeio de atividades parlamentares.
... não moro em apartamento funcional, não uso auxílio-moradia.
Neste ano, o pré-candidato ainda não usufruiu de nenhum imóvel funcional e nem do auxílio moradia, conforme consta do site do Senado. Por isso, a afirmação do candidato é VERDADEIRA.
Os imóveis funcionais são, de acordo com ato do Senado Federal, apartamentos para a moradia de senadores. Os parlamentares que não fazem uso do benefício podem optar pelo auxílio moradia no valor mensal de R$ 5.500,00. O benefício, no entanto, só será pago após a apresentação de recibos de aluguel ou notas fiscais de serviços de hotelaria.
É importante ressaltar, no entanto, que de 2008 até 2012 o Senado não disponibiliza informações sobre o uso dos respectivos benefícios pelo candidato.
Em outra checagem realizada pelo Aos Fatos, o senador havia dito que — nunca — havia utilizado os benefícios relativos à moradia, o que foi classificado como INSUSTENTÁVEL exatamente por não haver informações disponíveis e nem respostas do candidato com os dados faltantes.
Todos os meus concorrentes (...) têm uma rejeição de 50%, 60%.
Das três pesquisas dos últimos dois meses que apresentavam dados de rejeição dos candidatos à Presidência, duas delas, a pesquisa de 7 de junho do Datafolha e a pesquisa encomendada pela CNI ao Ibope de 24 de junho mostraram percentuais de rejeição dos adversários eleitorais de Alvaro Dias menores do que o mencionado pelo pré-candidato — entre 20% e 40%. A pesquisa do Ipespe, encomendada pela XP Investimentos, de 25 de julho apresenta níveis de rejeição próximos ao mencionado pelo senador. Como não há um consenso entre as pesquisas sobre o percentual de rejeição dos adversários de Alvaro Dias na corrida presidencial e o político não especificou a qual pesquisa referia-se, a declaração foi considerada IMPRECISA.
Analisando as pesquisa eleitorais divulgadas nos últimos dois meses, apenas as dos institutos Datafolha, Ibope e Ipespe apresentaram dados sobre a rejeição dos candidatos à Presidência, de acordo com o banco de pesquisas do site Poder 360 em parceria com o Volt Data Lab.
As três pesquisas com os dados de rejeição dos candidatos têm metodologias diferentes. O Datafolha e o Ibope usam entrevistas presenciais, enquanto o Ipespe usa entrevistas por telefone. A amostra de entrevistas do Ipespe (1.000 entrevistas) é menor do que a do IBOPE (2.000) e Datafolha (2.824). Outra distinção é que a amostra do Ipespe tem uma presença menor de pessoas de baixa renda. Enquanto no Ibope 55% dos entrevistados ganham até dois salários mínimos, no Datafolha, esse percentual é de 46%. No Ipespe, de 37%.
Na pesquisa do Datafolha que coletou entrevistas entre 6 e 7 de junho, nos cenários que incluíam Luiz Inácio Lula da Silva como candidato do PT, estavam na frente do senador paranaense: Lula, Jair Bolsonaro (PSL), Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB). No cenário com Fernando Haddad como candidato do PT, estavam na frente de Alvaro Dias: Bolsonaro, Marina, Ciro e Alckmin. A taxa de rejeição do senador nesta pesquisa foi de 12%, menor do que a dos adversários à frente nas intenções de voto: Lula (36%), Bolsonaro (32%), Alckmin (27%), Marina (24%) e Ciro (23%). A margem de erro estimada da pesquisa é de dois pontos percentuais.
Na pesquisa do Ibope que coletou entrevistas entre 21 e 24 de junho, nos cenários que incluíam Lula como candidato do PT, estavam na frente de Alvaro Dias: Lula, Bolsonaro, Marina, Ciro e Alckmin. No cenário com Haddad ou com Jaques Wagner como candidato do PT, estavam na frente de Dias: Bolsonaro, Marina, Ciro e Alckmin. A taxa de rejeição do senador nesta pesquisa foi de 9%, menor do que a dos adversários à frente nas intenções de voto: Bolsonaro (32%), Lula (31%), Alckmin (22%), Marina (18%) e Ciro (18%). A margem de erro estimada da pesquisa é de dois pontos percentuais.
Na pesquisa do Ipespe que coletou entrevistas entre 23 e 25 de julho, nos cenários que incluíam Lula como candidato do PT, estavam na frente de Alvaro Dias: Lula, Bolsonaro, Alckmin, Ciro e Marina. No cenário com Haddad como candidato do PT, estavam na frente de Alvaro Dias: Bolsonaro, Marina, Ciro e Alckmin. A taxa de rejeição de Alvaro Dias nessa pesquisa foi de 48%, ligeiramente menor do que a dos adversários à frente nas intenções de voto: Lula (60%), Ciro (59%), Marina e Alckmin (58%) e Bolsonaro (55%). A margem de erro estimada da pesquisa é de 3,2 pontos percentuais.
Ele [Joel Malucelli] não está sendo investigado, a empresa está sendo investigada.
O primeiro suplente de Alvaro Dias é Joel Malucelli, empresário dono do Grupo J.Malucelli e principal financiador da campanha do senador em 2014. O nome de Joel Malucelli não consta como investigado em qualquer processo da Lava Jato nem da Greenfield, operações em que Malucelli ou empresas do seu grupo empresarial foram mencionados, portanto a declaração de Alvaro Dias é VERDADEIRA.
Essa não é primeira vez que o político é cobrado a dar explicações sobre o suplente, cuja empresa é citada em escândalos de corrupção. Em abril, Aos Fatos checou uma declaração semelhante de Alvaro Dias.
A J. Malucelli Construtora de Obras e a J. Malucelli Energia, empresas do grupo de Joel Malucelli, foram alvo de mandados de busca e apreensão da 49° fase da Operação Lava Jato. Segundo o Ministério Público Federal do Paraná, essas empresas, junto com Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Odebrecht, OAS, integrantes do consórcio Norte Energia, pagaram propina para vencer o leilão de concessão da usina hidrelétrica Belo Monte.
Apesar de não estar no rol de investigados, Joel Malucelli ainda era presidente do grupo J.Malucelli quando aconteceu o leilão de Belo Monte, em abril de 2010. Os executivos da J. Malucelli, Celso Jacomel Junior e Theophilo Garcez foram apontados nas delações premiadas como os representantes do grupo empresarial que participavam das negociações de propina, segundo o Ministério Público.
Ainda de acordo com o Ministério Público, as empresas do consórcio efetuaram pagamentos de propina para o MDB (45%), PT (45%) e para Antônio Delfim Netto (10%). A propina correspondia a 1% do valor do contrato e seus aditivos. Os procuradores estimam que tenham sido pagos R$ 15 milhões em propina, sendo R$ 300 mil desembolsados pelo grupo J, Malucelli, que tem 2% na Norte Energia.
Joel Malucelli também foi citado na delação premiada do ex-superintendente de Fundos de Investimentos da Caixa Econômica Federal, Roberto Carlos Madoglio, firmada com procuradores da operação Greenfield, que investigam desvios de dinheiro no banco estatal. De acordo com o delator, durante uma reunião com Joel Malucelli e Alexandre Malucelli, atual presidente do grupo J Malucelli e filho de Joel, foi combinado o pagamento de R$ 500 mil em propina para que a empresa do grupo no setor de energia recebesse aporte de R$ 330 milhões do Fundo de Investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FI-FGTS).
Tanto o grupo J. Malucelli, quanto Joel Malucelli em notas à veículos de imprensa negaram envolvimento com esquemas de corrupção.
De acordo com os dados de campanha do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Joel Malucelli foi o maior doador da campanha ao senado de Alvaro Dias. Ele doou R$ 745.566 como pessoa física, 25% do total arrecadado pelo senador. Além disso a J.Malucelli Equipamentos, empresa do grupo de Joel Malucelli, doou separadamente R$ 511.211.
Outro lado. A reportagem entrou em contato com a assessoria do pré-candidato Alvaro Dias para que ele pudesse comentar as checagens. Até a última atualização desta reportagem, no entanto, não havia recebido retorno.