Aliados de Engler atacam Justiça após derrubada de vídeo que associava adversário a pedofilia

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Aliados do deputado estadual Bruno Engler (PL), candidato à Prefeitura de Belo Horizonte, usaram suas redes nesta véspera de segundo turno para atacar o Judiciário em virtude de uma decisão que determinou a remoção de um vídeo desinformativo. O conteúdo associava o prefeito e candidato à reeleição, Fuad Noman (PSD), à prática de pedofilia.

Na última terça (22), a Justiça Eleitoral em Minas Gerais derrubou uma propaganda de Engler que tirava de contexto trechos do livro Cobiça, escrito por Noman em 2022.

A obra é uma ficção e conta a história de uma personagem que, em determinada passagem, relembra em primeira pessoa um abuso sexual que sofreu do padrasto e de um amigo quando tinha 12 anos.

O juiz Adriano Zocche considerou que os trechos do livro tinham sido tirados de contexto e que a obra não faz apologia à pedofilia. O relato da personagem serviria para “evidenciar tragédias e abusos sofridos por ela, sem qualquer apologia ou incentivo a tais atos”, diz a decisão, que concedeu direito de resposta a Noman.

Já na última sexta (25), uma nova decisão judicial determinou a remoção de outro vídeo, publicado pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL), que também citava trecho de Cobiça para relacionar Noman à pedofilia.

A gravação também associava o episódio à 12ª edição do Festival Internacional de Quadrinhos de BH, evento que o deputado acusou de colocar crianças em contato com obras impróprias para sua faixa etária com o aval da prefeitura.

Ferreira é um dos principais cabos eleitorais de Engler, de quem é amigo, e tem se envolvido diretamente na disputa pela prefeitura da capital mineira.

Neste sábado (26), após a derrubada do conteúdo, o deputado publicou um vídeo e um post em seu perfil no X criticando a decisão e atacando a Justiça.

Nikolas Ferreira grava vídeo no celular enquanto está deitado na cama. Ele usa uma camisa preta, tem olhos escuros e cabelo castanho.
Em vídeo, Nikolas Ferreira critica decisão da Justiça e faz menção a tentativa de censura (Reprodução/X)

“Que credibilidade essa Justiça tem?”, questionou Ferreira, citando Olavo de Carvalho para associar acusações de desinformação a uma tentativa de censura. “Esse vídeo, mais uma vez, não é sobre mim, é sobre você. Porque o alvo sou eu, mas eles querem que você também sofra as mesmas consequências. Afinal de contas, se eles conseguem me calar, eles conseguem te calar”, disse o deputado em vídeo no X.

Quase simultaneamente às críticas de Ferreira, o deputado estadual mineiro Cristiano Caporezzo (PL) subiu em suas redes uma gravação na qual acusa o Judiciário de “intervenção no processo eleitoral” por ter determinado a remoção do conteúdo.

“É com sentimento de grande tristeza, indignação, que eu gravo esse vídeo, que é importante não apenas para a eleição em Belo Horizonte, capital mineira, mas para todo o Brasil, que tem sofrido interferência dentro do processo eleitoral por parte da Justiça brasileira”, acusou o político.

Aos Fatos constatou que o vídeo de Caporezzo foi compartilhado por volta das 16h deste sábado em um dos grupos de WhatsApp administrados pela campanha de Engler.

Apenas administradores podem enviar mensagens no grupo, no qual o vídeo de Ferreira segue no ar desde a noite de quinta (24).

Post no grupo ‘Tropa Bruno Engler’, publicado às 22:07, mostra capa de vídeo no qual aparece Nikolas Ferreira, jovem branco de cabelos castanhos, que veste camiseta preta. Na imagem, aparece também ícone que remete a conteúdos proibidos para menores de 18 anos.
Grupo administrado pela campanha de Bruno Engler postou e manteve no ar vídeo de Nikolas Ferreira que Justiça mandou remover (Reprodução/WhatsApp)

Embora não apareça na página de Engler no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o link para o grupo de WhatsApp é disponibilizado em canais oficiais da campanha do candidato a prefeito.

O candidato do PL voltou a fazer insinuações sobre o livro de Noman no debate organizado na noite da última sexta (25) pela Globo. O prefeito reagiu chamando seu adversário de “rei das fake news”.

Aos Fatos procurou Engler, Ferreira e Caporezzo por email, e este espaço será atualizado em caso de posicionamento.

Viralização

Apesar das decisões que determinaram a remoção da propaganda de Engler e do vídeo de Ferreira, o conteúdo continua sendo compartilhado em diversas redes. Só uma dessas publicações, no X, soma quase 1 milhão de visualizações.

No Instagram, posts desinformativos sobre assunto alcançaram mais de 250 mil visualizações. Em alguns deles, a mentira é ampliada, buscando agregar — sem provas — novos elementos às declarações de Ferreira sobre o evento de quadrinhos de Belo Horizonte.

“Os livros disponíveis eram sobre linguagem neutra, Kit Kay (sic), Satã amigos das crianças dentre outros. O mais chocante foi uma placa onde estava escrito ‘aceitamos cartão e C’”, diz uma dessas publicações.

A última pesquisa Datafolha, divulgada neste sábado (26), coloca Noman na liderança pela corrida de Belo Horizonte, com 53% dos votos válidos, contra 47% de Engler.

Esta não é a primeira vez que desinformações envolvendo sexualização de crianças circulam às vésperas de uma eleição. O caso mais famoso é o vídeo que circulou em 2018 e que acusava o PT de querer distribuir mamadeiras eróticas nas escolas caso Fernando Haddad vencesse a disputa pela Presidência, que acabou ficando com Jair Bolsonaro (PL).

O caminho da apuração

Aos Fatos coletou publicações nas redes por meio de palavras-chave para identificar conteúdos relacionados com os vídeos derrubados pela Justiça Eleitoral em Minas Gerais.

A reportagem também teve acesso à decisão que determinou a remoção do vídeo de Nikolas Ferreira, por meio do site do Tribunal Superior Eleitoral, e procurou os políticos citados para pedir um posicionamento.

Referências

  1. Estado de Minas (1, 2 e 3)
  2. g1
  3. X (@nikolas_dm) (1 e 2)
  4. Folha de S.Paulo
  5. Aos Fatos

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