A AGU (Advocacia-Geral da União) entrou com uma ação contra o Telegram, nesta quinta-feira (5), em que pede que a Justiça determine a exclusão de grupos que vendem cartões de vacinação fraudados.
O órgão cita reportagem do Aos Fatos que revelou um esquema de fraude a certificados de vacinação, com alteração dos dados diretamente no sistema do SUS, vendido em grupos na plataforma de mensagens. Além das informações publicadas, a AGU também utilizou dados obtidos durante a apuração e enviados pela reportagem ao Ministério da Saúde. Leia a íntegra do documento.
A ação judicial, noticiada primeiro pela Folha de S.Paulo, requer ainda que o Telegram seja obrigado a informar dados de usuários de cerca de cem canais.
- Em busca na plataforma, nesta quinta-feira (5), a reportagem verificou que o comércio de certidões fraudulentas segue ocorrendo em grupos antivacina;
- Também há indícios de que um dos usuários responsáveis pelo esquema revelado pelo Aos Fatos criou ao menos um novo grupo e outros dois perfis;
- Em duas mensagens publicadas entre terça (3) e quarta-feira (4), o fraudador exibe conversas com clientes satisfeitos com o serviço e capturas de tela do aplicativo ConecteSUS que comprovam que doses falsas de vacina foram adicionadas ao sistema do Ministério da Saúde;
- A reportagem ainda identificou outros sete grupos em que supostamente ocorrem a venda de certificados, que remetem a um outro usuário que promete fraude semelhante;
- Contatado pela reportagem, o Telegram não comentou sobre a ação movida pela AGU. A plataforma, no entanto, anunciou ter tirado do ar na última quinta (5) um dos grupos apontados pelo Aos Fatos como disseminadores do esquema fraudulento.
Na reportagem publicada no último dia 25 que detalha o esquema criminoso, Aos Fatos mostrou que fraudadores cobram entre R$ 200 e R$ 600 para inserir dados falsos de vacinação direto no sistema do SUS. O esquema conta supostamente com a participação de ex-funcionários da Clínica da Família Augusto Boal, na Maré, bairro da zona norte do Rio de Janeiro.
Para justificar a ação, a AGU cita o artigo 313-A do Código Penal, segundo o qual é crime “inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da administração pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano”. A pena é de 2 a 12 anos de prisão.
O órgão também menciona que os percentuais de vacinação da população têm apresentado queda nos últimos anos, “consequência da desordem informacional sobre vacinas produzida por diversos agentes maliciosos durante a pandemia de Covid-19”, o que representa “risco à saúde pública” e “dificuldade de tomada de decisões informadas pelos cidadãos”, de acordo com a AGU.
Contatada por Aos Fatos, a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro informou que registrou um boletim de ocorrência sobre o caso, que deve ser apurado pela 21ª Delegacia de Polícia. A reportagem também acionou a Polícia Civil do Rio de Janeiro, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.