Posts resgatam acusações sem provas de Bolsonaro para atribuir crimes a ministros do STF

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Não há evidências de que os ministros do STF Edson Fachin, Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes tenham recebido propina para manipular as eleições presidenciais de 2022. As publicações repercutem uma acusação sem provas feita pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2022 e constroem uma argumentação baseada em diversos elementos falsos.

Publicações com o conteúdo enganoso acumulavam cerca de 1.700 curtidas no Instagram até a tarde desta quinta-feira (15).

Edson Fachin: R$ 30 milhões. Soltou Lula, desprezando todos o processo legal (...) Luís Roberto Barroso: R$ 30 milhões. Impediu o voto impresso (...) Alexandre de Moraes: R$ 50 milhões. Acabou com liberdade de expressão, persegue conservadores, censurou todos e favoreceu Lula (...)

Publicações repercutem acusações sem provas feita por Bolsonaro em 2022 contra ministros do STF

Uma acusação sem provas feita por Jair Bolsonaro contra ministros do Supremo Tribunal Federal voltou a circular nas redes acompanhada de uma série de argumentos enganosos. O objetivo das peças de desinformação é apontar a existência de um suposto esquema de propinas que teria sido criado para permitir a eleição de Lula (PT).

A declaração de Bolsonaro foi dada em julho de 2022, durante uma reunião com a alta cúpula do então governo (veja abaixo):

“Pessoal, perder uma eleição não tem problema nenhum. Nós não podemos é perder a democracia numa eleição fraudada! Olha o Fachin. Os caras não têm limite. Eu não vou falar que o Fachin tá levando US$ 30 milhões. Não vou falar isso aí. Que o Barroso tá levando US$ 30 milhões. Não vou falar isso aí. Que o Alexandre de Moraes tá levando US$ 50 milhões. Não vou falar isso aí. Não vou levar pra esse lado. Não tenho prova, pô! Mas algo esquisito está acontecendo.”

A fala do ex-presidente consta no relatório da Polícia Federal entregue ao STF em fevereiro deste ano, que apontou a existência de um suposto plano golpista para manter Bolsonaro no poder. O ex-presidente nunca apresentou evidências que corroborassem as acusações.

Fachin. A primeira alegação diz que o ministro Edson Fachin “soltou Lula desprezando todo o processo legal” e “ignorou condenação em três instâncias por nove juízes”, o que não é verdade. Também não há provas de que o ministro teria recebido propina.

O presidente foi libertado em novembro de 2019, por determinação do juiz federal Danilo Pereira Junior, após o STF decidir que uma pessoa só pode cumprir pena após o trânsito em julgado do processo — quando não há mais recursos e a ação é finalizada.

A decisão alterou uma jurisprudência de 2016, que permitia a prisão em segunda instância. Na época, Fachin votou contra a medida — ou seja, ele se opôs à sentença que acabou favorecendo Lula.

Em 2021, dois anos após a soltura, o ministro anulou as condenações do petista por considerar que a 13ª Vara Federal de Curitiba não era o foro correto para julgar as ações. Os processos foram, então, direcionados à Justiça do Distrito Federal. Com a decisão, Lula recuperou seus direitos políticos e voltou a ser elegível.

A PGR (Procuradoria-Geral da República) recorreu da determinação de Fachin, mas o recurso foi derrubado pelo STF por 8 votos a 3.

Barroso. As peças enganosas alegam também que Barroso teria impedido a aprovação do voto impresso, o que não é verdade. A proposta foi rejeitada pelo plenário da Câmara em agosto de 2021. Também não há qualquer investigação em andamento que aponte que o ministro teria recebido dinheiro para promover uma articulação contra a medida.

A PEC 135/2019, de autoria da deputada Bia Kicis (PL-DF), precisava de no mínimo 308 votos em dois turnos. Ao todo, a proposta recebeu 229 votos favoráveis, 218 contrários e uma abstenção. Após a derrota, perfis bolsonaristas nas redes recorreram à desinformação para ampliar ataques contra Barroso e disseminar acusações de fraude.

No entanto, é fato que o ministro se posicionou em diversos momentos contra a aprovação da medida. Em junho de 2021, quando era presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Barroso participou de uma comissão da Câmara e destacou uma série de problemas associados à implementação da mudança, como o alto custo, o risco de fraude e judicialização de resultados e o perigo de quebra do sigilo do voto.

Moraes. Por fim, as peças afirmam que Alexandre de Moraes teria recebido R$ 50 milhões para favorecer a candidatura de Lula nas eleições presidenciais de 2022. Aos Fatos não encontrou qualquer registro de denúncia formal sobre o caso nem investigação que tenha comprovado a acusação.

O sistema eleitoral brasileiro é alvo de constantes ataques, que se utilizam de argumentos falsos, distorcidos ou já descartados após investigações. Desde que foram implementadas, em 1996, as urnas eletrônicas nunca registraram casos de fraude.

O TSE também reforçou que há diversas maneiras de auditar os resultados de uma eleição.

O caminho da checagem

Inicialmente, Aos Fatos elencou os argumentos usados pelas peças enganosas e investigou a veracidade de cada um deles. A partir da acusação feita contra Moraes, encontramos a declaração feita por Bolsonaro em 2022 e constatamos que não havia evidências que corroborassem os ataques contra o ministro.

Para verificar as acusações feitas contra os demais magistrados, realizamos uma busca na imprensa sobre o processo de aprovação do voto impresso e a soltura do presidente Lula. Constatamos, assim, que os demais argumentos também eram falsos.

Referências

  1. Correio Braziliense
  2. g1 (1 e 2)
  3. Folha de S.Paulo (1 e 2)
  4. STF
  5. Agência Brasil
  6. Aos Fatos (1 e 2)
  7. TSE (1 e 2)

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