Acidente aéreo no Canadá não tem relação com política de igualdade

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Não é verdade que o acidente ocorrido com um avião da Delta Airlines em Toronto, no Canadá, tenha relação com as políticas de igualdade de gênero ou a presença de uma tripulação feminina. Áudios divulgados pela imprensa mostram que a voz do piloto era masculina. Apesar de a causa oficial ainda estar sendo investigada, especialistas apontam que uma falha mecânica pode ter causado o incidente.

Publicações com o conteúdo enganoso acumulavam centenas de curtidas no X (ex-Twitter) até a tarde desta quarta-feira (19). As peças também viralizaram no exterior.

O avião que caiu em Toronto era um voo da Delta operado pela Endeavor Air, uma pequena companhia aérea obcecada por voos "sem homens" tripulação exclusivamente feminina.

Captura de tela de uma publicação no X onde lê-se “O avião que caiu em Toronto era um voo da Delta operado pela Endeavor Air, uma pequena companhia aérea obcecada por voos ‘sem homens’ tripulação exclusivamente feminina’. A imagem mostra também o mesmo texto em inglês: ‘The plane that crashed in Toronto was a Delta flight operated by Endeavor Air, a small airline obsessed with all-female ‘unmanned’ flights”. Abaixo do texto, há um vídeo de uma piloto dentro da cabine de um avião. Ela está vestindo um uniforme completo, com um chapéu com um emblema dourado e cabelos longos e loiros. Ela faz um gesto com a mão, apontando um dedo para cima, fazendo o sinal de ‘não’. Na legenda do vídeo, aparece a frase em inglês: ‘I don’t think so’ (Eu acho que não).

Publicações nas redes enganam ao afirmar que há relação entre o acidente envolvendo um avião da Endeavor Air, subsidiária da Delta Airlines, e as políticas de igualdade de gênero adotadas pela empresa. A causa oficial ainda não foi divulgada, mas especialistas apontam que a falha no trem de pouso foi o principal motivo para a queda.

Vídeos de diferentes ângulos do acidente mostram que o trem de pouso principal direito implodiu pouco após o contato com o solo. Segundo especialistas, essa falha fez com que a asa direita do avião tocasse o chão, desprendendo-se da fuselagem e pegando fogo logo em seguida. A força do impacto resultou no giro do avião, que ficou de cabeça para baixo.

A aeronave também enfrentou condições meteorológicas adversas: a pista de pouso estava coberta por gelo, uma nevasca reduziu a visibilidade em cerca de 10 km e as rajadas de vento chegaram a 60 km/h no momento do acidente.

A força do vento pode, inclusive, ter sido um dos fatores para o colapso do trem de pouso. Outras hipóteses também falam em falha de manutenção da peça, já que componentes importantes podem sofrer desgastes ao longo dos anos se não passarem por inspeções de rotina.

A aeronave envolvida no acidente era um modelo Bombardier CRJ900 com 16 anos de operação.

A imagem mostra a parte inferior de uma aeronave de grande porte, com o trem de pouso parcialmente estendido. O avião possui múltiplos conjuntos de rodas que estão distribuídas em vários eixos, alinhadas sob as asas e a fuselagem.
Falha no trem de pouso é apontada como principal hipótese para causa do acidente (Adrian Pingstone)

Nas redes — tanto brasileiras como estrangeiras —, as publicações que sugerem alguma relação entre as políticas de igualdade e o acidente têm sido acompanhadas de comentários misóginos e enganosos, que alegam que a empresa contrataria apenas funcionárias mulheres.

Montagem que une três publicações no X. Na primeira, lê-se: ‘Seria por acaso que esse avião sofreu esse acidente? A empresa tem implementado pesadas políticas DEI inclusive decidido operar integralmente ‘un-man-ed’. Ou seja, por lacração esquerdista, só há MULHERES na tripulação. COMPETÊNCIA não é o mais importante para esses IMBECIS’. Na segunda postagem, lê-se: ‘Primeiro, não é gênero, é sexo. O combate do wokismo se faz com inteligência, aí eu concordo. Por exemplo, apontando o fato de que uma empresa que escolhe sua tripulação pelo sexo deve estar com as prioridades erradas. Tripulação se escolhe pelo mérito. A empresa responsável por esse voo se chama Endeavour. E se gaba de só ter tripulações sem homens. O que mata não é se o piloto é mulher ou não mas se foi colocada lá apenas por ser mulher. O que está acontecendo na aviação com DEI é criminoso’. Por fim, a terceira postagem comenta: ‘Só mulheres na tripulação do avião que bateu no chão sozinho’.
Publicações misóginas atribuem queda do avião à políticas de diversidade e “agenda woke”.

A Endeavor Air possui cerca de 5.000 funcionários, dentre eles 1.500 pilotos dos sexos feminino e masculino. A empresa de fato costuma publicar vídeos celebrando a diversidade de gênero no cargo, tradicionalmente dominado por homens.

Além disso, áudios da conversa entre o controlador de tráfego aéreo e o piloto do avião deixam claro que se trata de uma voz masculina, e não feminina — diferente do que dão a entender as publicações misóginas.

O CEO da Delta Airlines, Ed Bastian, enalteceu a equipe de voo, que conseguiu realizar a manobra correta e evitar mortes. O empresário afirmou que todos os tripulantes eram experientes e haviam sido treinados para lidar com condições climáticas extremas. Ainda não há informações oficiais sobre quem estava pilotando o avião.

Deborah Flint, presidente do Aeroporto Internacional de Toronto, também elogiou a equipe de voo, afirmando que “lideraram heroicamente os passageiros para a segurança, evacuando uma aeronave que havia capotado na pista durante o pouso, em meio a fumaça e fogo”.

O caminho da apuração

Aos Fatos consultou informações publicadas por veículos que já haviam entrevistado especialistas na área. Também adicionamos contexto ao tema a partir de dados e entrevistas divulgados na imprensa.

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