🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Janeiro de 2023. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Golpistas acusam ‘infiltrados’, mas exibem imagens em que celebram vandalismo

Por Bianca Bortolon, Luiz Fernando Menezes e Milena Mangabeira

9 de janeiro de 2023, 12h44

Entre as horas que antecederam a invasão aos prédios públicos de Brasília e sua repercussão, golpistas deixaram de comemorar e passaram a atribuir os atos de violência e depredação deste domingo (8) a “infiltrados” de esquerda. Mesmo com farta documentação in loco da ação criminosa, bolsonaristas repetiram tática usada em dezembro, quando tentaram invadir a sede da Polícia Federal após a diplomação do presidente Lula (PT), e acusaram terceiros pelo levante.

O Aos Fatos identificou ao menos 22 perfis nas principais redes sociais que comemoraram a desordem instaurada em Brasília no meio da tarde e, pouco tempo depois, passaram a denunciar a presença de supostos infiltrados que estariam no local para incitar a violência.

No Twitter, por exemplo, uma usuária comentou em um vídeo de manifestantes sentados no Congresso Nacional que a “festa da Selma” — nome dado por alguns dos extremistas à invasão — estaria sendo um sucesso. Horas depois, no entanto, usou uma imagem de um manifestante que havia roubado a bandeira de um gabinete do PT como uma falsa prova de que a invasão e o quebra-quebra foram planejados por petistas (veja abaixo).

Usuário publicou às 16h57 um tweet para comemorar a invasão do Congresso e, três horas mais tarde, postou que a violência teria sido causada por infiltrados

Na mesma rede, outro usuário que exaltou a depredação da escultura A Justiça, de Alfredo Ceschiatti, instalada em frente ao prédio do STF (Supremo Tribunal Federal), mudou de ideia pouco mais de duas horas depois e passou a imputar a culpa das manifestações aos “comuna”. “Vamos ter que criar uma série: os infiltrados”, afirmou no post (veja abaixo).

Comparação mostra contradição de usuária que disse que a depredação da escultura do STF seria uma “representação da indignação de um povo” mas depois publicou tweets denunciando a existência de infiltrados da esquerda

Além dos perfis identificados pelo Aos Fatos, usuários criaram teorias e falsas evidências para jogar a responsabilidade pelos atos terroristas na esquerda. Desde o final da tarde de domingo até a manhã desta segunda-feira (9), publicações com esse teor acumulavam cerca de um milhão de visualizações no TikTok e no Kwai e milhares de compartilhamentos no Facebook e no Twitter. Veja alguns exemplos:

  • Em uma foto, um homem é apontado como infiltrado por usar uma máscara de caveira. “Patriota não usa isso”, diz o post;
  • Publicações alegam que manifestantes eram infiltrados por não estarem de verde e amarelo e por esconderem o rosto;
  • Apesar de vestir amarelo, um homem mostrado em um vídeo foi apontado como infiltrado por estar quebrando uma vidraça, apesar de supostos pedidos contrários de outros participantes;
  • Mesmo que se diga bolsonarista e afirme durante a gravação estar acampado diante do quartel, um homem detido pela Força Nacional foi apontado em posts como petista por usar uma mochila vermelha;
  • Em um vídeo viral no TikTok, um homem e uma mulher levados à delegacia são identificados, sem provas, como integrante do MST (Movimento dos Trabalhadores sem Terra);
  • Em uma galeria de fotos de supostos infiltrados, uma seta aponta para um homem negro vestido de verde e amarelo.

Como não há provas de que os atos terroristas operados em Brasília teriam sido obra de militantes de esquerda infiltrados, bolsonaristas também têm compartilhado mentiras para defender a tese falsa. Entre o momento da invasão e esta terça (10), peças de desinformação que identificavam falsamente um dos golpistas como um sobrinho do ex-governador Zeca do PT (MS) ou que usavam um vídeo gravado na China como se fosse prova de que o MST (Movimento Sem Terra) participou da depredação dos prédios públicos.

Colaborou Amanda Ribeiro


Este texto foi atualizado às 16h do dia 10 de janeiro de 2023 para acrescentar mais informações.

Topo

Usamos cookies e tecnologias semelhantes de acordo com a nossa Política de Privacidade. Ao continuar navegando, você concordará com estas condições.