🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Março de 2023. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Funcionários de deputados bolsonaristas usaram redes para publicar desinformação e conteúdo golpista

Por Bianca Bortolon, Ethel Rudnitzki e Milena Mangabeira

20 de março de 2023, 14h17

Agora compondo a oposição na Câmara, deputados bolsonaristas nomearam para seus gabinetes funcionários responsáveis por perfis que já foram usados para espalhar mentiras e conteúdos golpistas nas redes.

  • Aos Fatos identificou 30 servidores que administram páginas ou canais, com o total de 1,1 milhão de seguidores, em que publicaram nos últimos oito meses informações falsas e conteúdos questionando o resultado da eleição;
  • Esses funcionários estão alocados nos gabinetes de 19 deputados federais, do PL e do Republicanos, que representam 14 estados;
  • Em fevereiro, o custo total dos salários desses funcionários foi de R$ 169 mil;
  • Desinformador recorrente, o deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) foi o que nomeou o maior número de funcionários com esse perfil: quatro de seus secretários já publicaram conteúdos enganosos e golpistas;
  • Já os deputados Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS), Mário Frias (PL-SP) e General Girão (PL-RN) empregaram, cada um, três servidores que já difundiram mentiras nas redes.
Leia mais
BIPE Deputados eleitos espalham mentiras sobre crise humanitária do povo Yanomami
BIPE Parlamentares comparam ginásio da PF a campos nazistas para defender golpistas presos

Com 140 mil seguidores no Instagram, Givanildo José da Silva Santos — ou Givanildo Conservador, como é conhecido nas redes — foi nomeado pela deputada Clarissa Tércio (PL-PE). Na página Nordestino Conservador, ele usa mentiras para atacar o governo Lula (PT) e defender a gestão de Jair Bolsonaro (PL). No início do ano, por exemplo, Santos compartilhou um post que afirmava que os yanomamis em estado de desnutrição em Roraima seriam venezuelanos, o que é falso.

Imagem compartilhada pela página Nordestino Conservador difunde mentira de que yanomamis desnutridos seriam venezuelanos. Texto do post diz: o comunismo mata! Indígenas em estado de desnutrição em Roraima são venezuelanos e fruto do comunismo de Maduro e Lula
Desinformação. Em post no Instagram, página Nordestino Conservador difundiu mentira de que yanomamis desnutridos seriam venezuelanos (Reprodução/Instagram)

A mesma mentira foi compartilhada por Dárcio Bracarense, nomeado para o gabinete do deputado Coronel Meira (PL-PE) com salário bruto de R$ 13.307,06. Cofundador do movimento Nas Ruas, que alavancou a popularidade de Carla Zambelli (PL-SP) à época das manifestações pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), ele tem mais de 35 mil seguidores no Instagram e um canal no YouTube com cerca de 5.000 inscritos.

Já Teobaldo de Queiroz Gomes Vieira, escolhido para auxiliar Gustavo Gayer com salário de R$ 4.006,61, usou as redes para levantar suspeitas sobre a veracidade da posse do presidente Lula. Replicando uma peça de desinformação desmentida pelo Aos Fatos em janeiro, Vieira apostou em uma teoria conspiratória para sugerir que tanto a faixa presidencial quanto o livro de posse seriam falsos.

Leia mais
Nas Redes Por que o livro de posse e a faixa de Lula são diferentes dos usados por Bolsonaro?
Nas Redes É falso que fotos de yanomamis divulgadas na imprensa foram feitas na Venezuela

Nomeados respectivamente por Nikolas Ferreira (PL-MG) e Junio Amaral (PL-MG), Henrique Cândido Freitas (salário bruto de R$ 6.466,64) e Breno Alves Fonseca (salário bruto de R$ 3.015,57) também instigaram seus seguidores a desconfiar da lisura do resultado das eleições.

Em publicação no Instagram no dia 10 de janeiro, Freitas compartilhou um vídeo do portal britânico MW3.News que afirma que Lula foi alçado à Presidência via fraude eleitoral e que o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes tem ligação com o crime organizado. Nada disso é verdade.

Já Fonseca sugeriu aos seus quase 250 mil seguidores no Instagram que o presidente Lula não teria tido 60 milhões de votos nas urnas e que o fato de alguns equipamentos terem registrado 100% dos votos para o petista seria um indicativo de fraude. Como mostrado por Aos Fatos, tribunais regionais esclareceram que se trata de casos isolados e que não provam a ocorrência de irregularidades.

Publicações golpistas. Além de difundir mentiras nas redes, funcionários nomeados por deputados bolsonaristas também participaram ou apoiaram atos golpistas contra o resultado do pleito de 2022.

Próximo de membros do antigo governo, o advogado Bruno André Ferreira Costa de Jesus, que hoje recebe R$ 12.792,66 como secretário do deputado Mário Frias (PL-SP), publicou vídeo convocando manifestantes para a Praça dos Três Poderes no dia 8 de janeiro. “Os chamados da população que se manifesta nesse momento em Brasília é para que mais pessoas se incorporem ao movimento”, escreveu ele aos 92 mil seguidores.

Publicação no Instagram da página Os Bastidores de Brasília difunde comparação enganosa entre nazismo e o contexto brasileiro em 11 de janeiro
Defesa de manifestantes. Página Os Bastidores de Brasília comparou medidas tomadas após atos terroristas de 8 de janeiro com métodos nazistas (Reprodução/Instagram)

Outro apoiador das manifestações golpistas nomeado ao cargo de secretário parlamentar é o major da reserva da Aeronáutica Emílio Kerber Filho, administrador da página Os Bastidores de Brasília. Alocado no gabinete do Tenente-Coronel Zucco (Republicanos-RS), Kerber Filho transmitiu ao vivo no ano passado entrevistas com alguns dos que acampavam em frente ao Quartel-General do Exército em Brasília para pedir a anulação das eleições. Após os atos do dia 8 de janeiro, ele saiu em defesa dos manifestantes e relacionou as prisões a métodos nazistas.

Outro lado. O Aos Fatos entrou em contato com os gabinetes dos deputados questionando a escolha de servidores que já publicaram desinformação. Os gabinetes dos parlamentares Coronel Meira, Carlos Jordy, Diego Garcia, Julia Zanatta e Tenente Coronel Zucco afirmaram que as publicações feitas pelos servidores de seus gabinetes não têm relação com suas atividades parlamentares.

O restante dos gabinetes não respondeu até a publicação desta reportagem.

Topo

Usamos cookies e tecnologias semelhantes de acordo com a nossa Política de Privacidade. Ao continuar navegando, você concordará com estas condições.